sexta-feira, 7 de abril de 2017

As perigosas crianças do BE

A agremiação do BE é um fenómeno que espelha bem um certo tipo de diletantismo que invadiu a sociedade portuguesa. Vida facilitada, com poucos constrangimentos do género “levar filhos à escola”, com acesso abundante a informação processada na mecha e a muita oferta cool disponível por aí, esta desarranjada mole urbana permite-se emitir doutrina à velocidade dos acontecimentos. Na abundância destes com a arrogância daqueles medra um imenso ruido e confusão que serve bem o diletantismo de quem ousa tudo julgar sem nada ter de provar, o que, aliado à condescendência como são tratados, resulta num grupo demasiado curto no argumento e excessivamente largo no berro. A desvinculação na prestação de contas e correspondente falta de escrutínio que aos outros se exige não é mais do que a zona de conforto onde o BE respira.


Assim como certas crianças urbanas mal-educadas a quem tudo se permite, não é de estranhar que o tom arrogante e estridente de que o bloquista se socorre sejam o seu norte, pois que à escassez de Nãos (não vá o petiz traumatizar-se) por oposição abundam infinitos Sins. Para tentar acalmar o rebelde, mesmo que fugazmente, há que o fornecer com muitos brinquedos e satisfazer todos os seus caprichos sempre que a reclamação emirja. Como resultado, a malta do Bloco, como qualquer ser a quem pouco se exige e tudo pode, moldou-se para a satisfação do imediato e efémero, olhando para o “sistema” que o criou mas que ele desvaloriza como um pote sem fundo que deve estar sempre disponível para saciar o apetite do momento, ainda que este esteja em conflito com as melhores prácticas ou com o desejo da maioria. No fundo o bloquista é uma criança estragada.

O momento de ouro do BE já foi. Corria o ano de 2015 aquando da vitória do Syriza e a grande ascensão do Podemos. Aquela imagem de Marisa Matias na primeira fila da grelha a bater palmas a Tsipras quando este entrava em palco na sua primeira aparição pública após a sua vitória nas eleições simbolizava para o BE o início de uma nova era que afinal não o foi: submeter as decisões dos crescidos à vontade das crianças. Perdendo um aliado de peso, e vendo o outro mesmo aqui ao lado perder gás e representatividade, o BE tarde percebeu que só fora do Euro terá espaço para respirar e poder brincar às revoluções. E é aqui que o BE pode ser perigoso.

Como na transição de um adolescente para a vida adulta se desembrulham algumas questões, é incontornável saber agora se o BE se syriza ou se bloqueia? E o BE já respondeu, bloqueia-se. Por ter visto que a Europa não cedeu ao Syriza e que este cedeu, logo interiorizou que dentro da zona Euro nunca poderá dar largas aos seus dislates. Só com escudos e máquinas que os possam imprimir a seu bel-prazer o BE tem futuro no recreio a que se destinou, tendo até já consultor no Banco de Portugal para o efeito.

Até à geringonça o BE tinha o seu raio de acção muito limitado, mas agora tem influência significativa no orçamento. Lá encontra-se de tudo numa pérfida união de interesses. Para além destas crianças que se estão nas tintas para o défice, encontramos os ilusionistas do PS que procuram maquilhá-lo o melhor que podem para não seguirem o caminho do PSOE e PASOK, passando pelos jurássicos do PCP que há muito só querem o escudo e que só se preocupam com os redutos sindicalistas mais arcaicos de que se alimentam. É nesta união egoísta e estroina que o BE pode fazer valer o seu objectivo. Por isso a geringonça serve o BE na perfeição, por isso o BE se agacha a tudo a que outrora berraria. E é por isto o BE pode ser perigoso. A tudo está disposto para sairmos da zona Euro.

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