quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Que taxa de poupança para o futuro?



Um dos temas mais relevantes para a economia portuguesa e um dos menos abordados respeita à taxa de poupança relativamente ao rendimento disponível. Desde o início dos anos 60 que este valor vinha crescendo tendo posteriormente estabilizado em valores próximos de 20%, sendo 1987 o último ano que se verificou um valor desta grandeza. Desde essa altura que a taxa de poupança vem demonstrando uma tendência continuada de diminuição, chegando a atingir 6,8% em 2008. Em 2009 e 2010 o valor subiu de novo, ao que não será alheio a natural reacção à crise financeira internacional. O mesmo aconteceu em 2012 e 2013, o que também será explicado pela reação ao programa da Troika. No entanto em 2014 e 2015 a taxa de poupança retomou a sua anterior tendência descendente.

1960
4,9%
1970
17,9%
1980
18,4%
1990
17,1%
2000
10,5%
2010
9,2%
1961
5,5%
1971
20,8%
1981
19,4%
1991
15,5%
2001
11,1%
2011
7,5%
1962
7,3%
1972
24,3%
1982
21,7%
1992
15,2%
2002
11,0%
2012
7,7%
1963
9,9%
1973
22,1%
1983
20,5%
1993
14,2%
2003
10,0%
2013
8,7%
1964
11,4%
1974
18,1%
1984
18,8%
1994
11,2%
2004
10,1%
2014
6,9%
1965
8,6%
1975
21,4%
1985
20,3%
1995
12,5%
2005
9,2%


1966
13,3%
1976
21,0%
1986
18,8%
1996
11,5%
2006
8,0%


1967
15,1%
1977
16,2%
1987
20,0%
1997
11,0%
2007
7,1%


1968
13,9%
1978
18,6%
1988
14,4%
1998
12,1%
2008
6,8%


1969
17,6%
1979
19,5%
1989
17,0%
1999
11,4%
2009
10,4%


Fonte: Pordata

Nota: a Pordata não possui dados para 2015 pelo que se recomenda:
     1.       A análise do Indicador de Poupança da Universidade Católica em https://www.clsbe.lisboa.ucp.pt/pt-pt/faculty-knowledge/consulting/indicador-de-poupanca-apfippuniversidade-catolica

     2.       A análise do INE em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=224676904&DESTAQUESmodo=2 onde se diz que a taxa de poupança foi de 5,8% no 1º trimestre de 2015 e 5% no 2º trimestre de 2015

Na zona Euro a taxa de poupança é estável e ronda os 12,5%. Nos EUA é cerca de 5%. Consultar dados do Banco de Portugal em http://www.bportugal.pt/Mobile/BPStat/Serie.aspx?IndID=826846&SerID=2027398&sr=2027407-2027389&View=graph&EndYear=2015&IniYear=1999&SW=1349&Show=1

A questão que se coloca é: qual deverá ser a taxa de poupança de referência? A dos EUA? Ou a dos países da zona Euro? Creio bem que a taxa de 12,5% da zona Euro será bem mais consentânea com as melhores práticas de quem pensa assegurar o seu futuro, nomeadamente em tempos de incerteza que vieram para ficar. Creio também que o desnorte consumista que tomou conta das almas lusitanas desde 1987 levou Portugal por maus caminhos. Parte da nossa independência terá que ser reconquistada através do aumento poupança, pois só com mais poupança poderemos: i) pensar em substituir em maior grau a dívida pública existente nas mãos de estrangeiros, ii) aumentar a capacidade de investimento de cidadãos nacionais, iii) dar mais capacidade ao decisor político de melhor interpretar a mudança que terá de ocorrer no nosso modelo de segurança social, iv) ter mais portugueses a viver em estabilidade.

Um bom indicador sobre padrões de consumo menos adequados é o recente aumento da venda de automóveis. Segundo dados da ACAP temos os seguintes valores para vendas para ligeiros de passageiros e todo-o-terreno desde 2005:

2005
206399
2006
194607
2007
201700
2008
213294
2009
160947
2010
223399
2011
153404
2012
  95309
2013
105921
2014
142826
2015
183674
Fonte: ACAP

Nota: para 2015 só existem dados até Agosto, pelo que o valor que se extrapolou para 2015 considera o crescimento acumulado até esta data relativamente a 2014 (+28,6%).
É sabido que as exportações têm tido um bom comportamento recentemente, mas será avisado seguir de perto a evolução da taxa de poupança e a venda de automóveis. As três intervenções externas que tivemos desde 1974 tiveram na sua base desequilíbrios na balança de pagamentos. A história de Portugal em democracia não pode ser marcada por constantes intervenções externas, pelo que urge monitorizar o início das bolas de neve consumistas que cedo ou tarde nos conduzem a profundos desequilíbrios macroeconómicos.

Como facilmente se compreenderá este é um tipo de matéria demasiado denso para ser levado a debate numas eleições. Mas é impossível não registar a insensatez do PS quando fala em choque de consumo interno dadas as circunstâncias acima descritas. É de quem não percebe nada sobre como governar um país. Quanto à Coligação pede-se que reflicta muito seriamente sobre esta matéria.