sábado, 10 de novembro de 2012

O ruído anda à solta

Há muitos miseráveis nestes dias sem inibição em demonstrar publicamente a vasta ignorância e irresponsabilidade de que também somos feitos. Ex-governantes com responsabilidades vociferando alarvidades a bom som, e ainda por cima sem problemas em colocar mais lenha seca em pinhal que os mesmos nunca trataram de limpar. Sindicalistas com uma visão do mundo limitada pela sua sombra num 21 de Junho pelas 12 horas sem a mínima noção das consequências dos seus actos. Jornalistas sem noção entre veicular uma notícia e moldar a mesma de acordo com o sentimento dominante, ou ainda sem rédeas em botar livre discurso, e com tom de propriedade, em domínio alheio. Alguns empresários a queixarem-se incrédulos de que o mercado definha por causa da crise o que somente revela que grande parte da classe não entende de macro economia. Pessoas em geral a dizerem tudo o que lhes vem à cabeça em perfeita sintonia com a emoção do momento. Cosmopolitas de verniz ténue muito indignados por não puderem celebrar cosmopolitismo à sua maneira, mas sem a mínima vontade em indagar sobre oportunidades noutras bandas e noutros sectores.
 
Há de tudo, não falta nada. Ou melhor, até falta. Falta a toda essa gente, que a névoa da crise trata de nivelar pela mesma bitola, propor seja o que for como alternativa fundamentada. Desde um PS totalmente infantilizado que toma o jogo numa base de mero interesse político, a uma esquerda radical que acha natural que a irresponsabilidade seja um direito constitucional, pouco há a esperar mais no actual quadro político. Assim, o futuro do país passa por descortinar e seguir o discernido e não a massa palradora incontinente que as circunstâncias tratam de amplificar. O discernido espera que Portugal acalme um pouco enquanto Portugal vai desesperando enquanto espera em encontrar o discernido. Só quem não espera é o mundo. Esse vai andando... e rápido.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Banco alimentar

Estalou um novo escândalo no país: Isabel Jonet veio dizer que existem responsabilidades individuais. Os arautos da indignação fácil associaram-se em protesto porque não concordam que estamos a empobrecer por culpa nossa, atribuindo-a, portanto, a outras pessoas ou entidades. Alguns dizem que a culpa é da troika, outros que é do azar, talvez alguém culpe o sistema ou até a própria Isabel Jonet. O que esta gente tem a certeza é que a culpa não é nossa. Nós somos as vítimas. Mais: nós somos os salvadores da nação porque contribuímos para a luta contra a fome com um ou dois pacotes de arroz por ano.

A ironia que pesa sobre a situação reside no carácter abstracto e obviamente ideal que a luta contra a fome tem para os contestatários, uma vez que para Isabel Jonet a causa é concreta há mais de vinte anos. E se o Banco Alimentar funciona graças à boa vontade de pessoas individuais também é verdade que isso só acontece porque existe alguém que faz uso do seu tempo para organizar uma plataforma que permite às pessoas ajudar. Por falar nisso o cerne da questão é mesmo esse: o Banco Alimentar funciona e bem.

De resto, trata-se de um axioma: as pessoas vivem acima das suas possibilidades, compram demais e consomem o que não precisam. É assim e nunca há-de mudar. Felizmente, porém, ainda há quem seja capaz de atenuar as feridas do problema. Obrigado, Isabel Jonet.